Friday, November 21, 2008

Agora eu senti!


Muita gente têm me perguntado como estou sentindo a crise econômica aqui nos Estados Unidos. E eu venho respondendo que, pelo menos até agora, não me afetou em nada. Os preços no supermercado não subiram, a gasolina fez foi diminuir recentemente, e eu não estou tentando conseguir crédito - ao menos agora. 
Tudo bem que não tem como não perceber a presença maciça do assunto nas notícias, nas conversas. Parece também que as lojas de departamento estão fazendo mais "sales" do que o costume, ou estão fazendo-os mais cedo. Mas sinceramente, desde que eu cheguei aqui a impressão que eu tenho é de que essas lojas estão em "sale" o tempo todo. Elas só mudam o tema: Black Friday, X-mas, Valentine Day, Spring, Mother's Day, Memorial Day, Fathers' Day, Summer, Independence Day, Back to School, End of Summer, Labor Day, Fall, Columbus Day, Election Day, Thanksgiving, Black Friday... Mas para mim tanto faz, pois não tenho comprado muito mesmo - ao menos agora.
Fora isso,  eu já ouvi de amigos (três) que as empresas deles fizeram cortes de pessoal bem radicais, tipo, 10% de funcionários demitidos da noite para o dia. Isso é assustador! Eles com certeza não estão nada confortáveis. Mas eu não tenho emprego mesmo, então medo de perder o emprego não é algo com o que eu precise conviver - ao menos agora.
Enfim, efeitos diretos da crise na minha vida eu não tinha sentido -  até agora.  Mas semana passada, eu finalmente - e infelizmente - senti uma dor aguda no bolso, resultado direto dessa confusão econômica. E o mais irônico é que eu senti essa dor no Brasil mesmo. Foi quando eu fui dar uma verificadinha no saldo do meu fundo de aposentadoria (que eu pretendo sacar para pagar meu MBA no ano que vem). Ui! Eu não acreditei no que eu vi: 30% sumiram, foram para o ralo, escafederam-se! Mandei um email para o fundo na mesma hora, pedindo explicações. Recebi a resposta no dia seguinte: um texto longuíssimo, que no fim só quer dizer "apostamos na bolsa e nos f..." 
Essa doeu, viu?!

Ano 2, aqui vou eu!


Essa foto é da janela da sala da primeira casinha que tivemos aqui. 
Quando chegamos em SF, ficamos dois meses nesse apartamento, que a empresa do Ri alugou, até acharmos um lugar definitivo - o que não foi fácil, por sinal. Eu sofri para achar um apê bacana pra gente, não apenas porque encontrar um lugar decente que não custe uma fábula é tarefa de Hércules aqui em San Francisco, mas também porque eu sofria com meu inglês capenga, tendo que ligar para mil anúncios todos os dias. Minha barra de bookmarks do computador estava dominada por dicionários inglês-português, tradutores e ferramentas de pronúncia e o primeiro vocabulário que eu aprendi consistia em termos como "hardwood floor", "landlord", "detailed ceilings", "split bathroom", "security deposit" etc.
Mesmo assim haviam (muitos) momentos em que o diálogo não rolava mesmo. Com o dono desse apartamento em que eu moro agora, por exemplo, eu nunca consegui me comunicar. Ele é chinês ou japonês, não sei bem, mas tem um sotaque super forte. Eu sei que ele deixava recado no meu celular e eu tinha que esperar o Ri chegar em casa para ouvir e "traduzir" pra mim.
Nessa época, eu estranhava bastante o fato de que o sol já se punha por volta de umas cinco da tarde (essa foto deve ter sido tirada entre 4h30 e 5h30, no máximo). No verão, já foi o extremo oposto, ainda estava claro até umas nove da noite, o que eu acho maravilhoso. Curti ao máximo esses dias longos de verão, a cidade inteira curtiu.
Mas agora voltou a escurecer às cinco de novo. E isso significa que já estou aqui há um ano! Uau, confesso que nem senti. Acho que é porque quando a gente está curtindo, nem vê o tempo passar, né? Vendo essa foto de um dos meus primeiros "sunsets" aqui e lembrando desses primeiros dias é que eu vejo quanta coisa já passou. Quantos amigos fizemos, o quanto meu inglês melhorou (ufa!), quantos dias incríveis tivemos, o quão mais familiar eu me sinto agora com a cidade, e quanta saudade do meu Brasilzinho também!
Pro meu segundo ano aqui, eu não posso desejar nada além de que ele seja tão bacana quanto o primeiro foi. Vamos que vamos!

Saturday, November 15, 2008

Holiday Season!

A árvore da Union Square do ano passado. 

Entrei no clima de Halloween e coloquei umas abóboras na minha mesa de centro.


Para mim, o período entre dezembro e fevereiro (inclusive) sempre foi a melhor época do ano. A alegria começava com o final das aulas; depois vinha o Natal; depois o Reveillon; aí o Carnaval e geralmente pertinho do Carnalval meu aniversário. Daí em março começavam as aulas e acabava a alegria. 
Esse ano, eu percebi que aqui nos Estados Unidos o final do ano também é a época mais legal, mas é um pouco diferente. 
A alegria começa com o Halloween, no finalzinho de outubro. Eu fiquei impressionada como as pessoas dão bola para o Halloween. No meu bairro, quase todas as casas tinham abóboras na porta. Nas lojas em geral, mil artigos para decoração. Tudo de abóbora por todos os lados. Eu achei até uma cerveja sazonal, feita com abóbora! E no dia do Halloween, as pessoas se fantasiam mesmo, e não são só as crianças não. Eu vi muitos crescidinhos usando fantasia até para ir ao trabalho. 
Daí vem o Thanksgiving, dia 27 de novembro (portanto, ainda antes do Natal), que também é bem importante aqui. Vai ser meu segundo Thanksgiving nos states (já!) e esse ano vamos nos juntar na casa de uma amiga e assar um peru todos juntos, acho que vai ser divertido! O que eu acho bacana no Thanksgiving é a idéia de as pessoas se juntarem e agradecerem pelas coisas boas. Eu quero dizer, esse é o foco da coisa toda - agradecer. Sem correr às lojas para comprar presentes. Bem, talvez correr ao supermercado para comprar o peru, mas é isso.
Aí, enfim, vem o Natal. No ano passado, eu estava ansiosa para passar o Natal nos Estados Unidos, pois achei que finalmente a idéia do Papai Noel com aquela roupa toda e os bonecos de neve iam fazer sentido. Mas em São Francisco não neva! De qualquer maneira eu adorei, tudo decorado tão lindinho... E esse ano já está começando a ficar tudo decorado de novo.
Só que aí, acabou. O ano novo não recebe tanta atenção por aqui, e logo depois já está todo mundo de volta à escola pois o break de inverno é bem curtinho (as férias longas aqui são em julho, no verão - o que faz sentido; o que para mim não faz muito sentido é o ano escolar começar no final de agosto, mas enfim...).
Sabe o que é bom nisso tudo? Que esse ano eu vou ter uma melhor-época-do-ano prolongada, porque estou começando aqui e vou esticar no Brasil. Mais ou menos como aquelas pessoas chiques que passam a primavera e o verão em Paris e depois vão para o hemisfério sul curtir o resto do ano. Demais!

Tuesday, November 11, 2008

Um pouco de poesia


Glauber Rocha em uma encruzilhada no filme "Le Vent d'est" (1970), do Godard.

Uma das coisas bacanas de se aprender uma nova língua é que você se torna mais apto a entender a arte, a cultura, a história e o legado de um povo. Pesquisadores sabem disso, pois não é à toa que quem quer estudar uma área científica que tem boa parte de seu conhecimento registrado em alguma língua específica parte logo para a tarefa de aprender aquela língua, para poder ler originais. 
Agora que eu estou começando a me sentir mais confortável com o inglês, estou começando a me aventurar pela poesia. Hoje eu li um poema lindo, de Robert Frost, e me deu vontade de compartilhar aqui:

The Road Not Taken

Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;

Then look the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that the passing there
Had worn them really about the same,

And both that morning equally lay,
In leaves no step had trodden black.
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.

I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and I - 
I took the one less travelled by
And that has made all the difference.

Monday, November 10, 2008

Adaptação


Quando uma pessoa se toca de que ela está se acostumando com a cultura dos states? Quando ela se flagra assando cupcakes ao invés de um bolo inteiro!

Thursday, November 6, 2008

Mais eleições




As fotos acima foram tiradas por uma amiga no dia da eleição, aqui em San Francisco. A Celia, que é francesa e não pode votar, foi às urnas no dia 4/11 só para ver o movimento e tirar umas fotos. Ela é super politizada, e ficou empolgada de ver como as pessoas foram votar em massa (só lembrando: aqui o voto não é obrigatório) e pareciam todas muito felizes exercendo esse direito.

Confira mais fotos dela aqui.

Tuesday, November 4, 2008

Yes we can, but not all of us...




Hoje foram as eleições aqui nos Estados Unidos (para quem ainda não sabe.) E eu fiquei muito decepcionada!
Sim, o Obama venceu e isso é ótimo! Eu não esperava nada diferente disso e fiquei muito feliz por confirmar que nem só de "rednecks" esse país é feito. Eu confesso até que me emocionei com o discurso de vitória dele (acho que estou começando a gostar mesmo dessa nação...) Mas um resultado me impactou muito mais do que a disputa presidencial: a da proposição número 8 aqui da Califórnia.
As proposições são votações estaduais onde é possível, por meio de voto popular, alterar a legislação dos estados. A número 8 foi proposta por um tal de "Ato da Califórnia de Proteção ao Casamento" para tornar inconstitucional a decisão da Suprema Corte da Califórnia em favor do casamento gay. A Suprema Corte do Estado da Califórnia tinha decidido em favor do casamento gay em meados desse ano. Eu até comentei aqui, foi uma corrida aos cartórios e nesse meio tempo, aproximadamente 16 mil casais puderam formalizar sua união.
Porém, a Prop 8, que de acordo com seu título oficial, "Elimina o direito de casais de mesmo sexo de se casarem legalmente" foi aprovada por uma pequena margem. Na Califórnia! Em 2008! Eu simplesmente não acreditei. É muito absurdo... O próprio nome da coligação, que conseguiu reunir mais de 1 milhão de assinaturas para tornar a proposition apta a correr nas eleições, já é um equivoco: como assim proteção ao casamento? O casamento entre heteros não está em risco. O fato de casais gays terem direito a se casar não elimina o direito dos heteros! Que casamento então eles querem proteger? O gay que não é... E depois, o próprio título que eles deram já deveria depor contra a proposição. Eliminar um direito não parece assim muito legal, não é?
Mas o fato é que quem casou casou, quem não casou ainda tem muita luta pela frente...
Ai, que triste!