Saturday, October 25, 2008

Bicho-grilo


San Francisco é uma cidade bicho-grilo. Eu não precisava nem dizer isso, afinal, foi aqui, exatamente aqui, que nasceu o movimento hippie, nos anos 60. Mas o que eu quero reforçar é que a cidade continua bicho-grilo, até hoje. E não é só na Haight Ashbury não. Eu sinto "vibrações-cósmicas-paz-e-amor" em todo canto. É mercadinho natureba que só vende orgânico, semente de girassol e outras coisas mais; É uma presença inconfundível, e constante, de um certo aroma marijuana no ar; É uma horda de Caetanos-cabelo-leãozinho-calça-capri-de-corduroy-e-sandália-de-couro solta nas ruas... enfim.
Hoje eu fui almoçar num restaurante que é a mais fiel representação do que eu estou falando. O lugar se chama Café Gratitude, existem três ou quatro espalhados na cidade, mais um em Berkeley (que consegue ser ainda mais hippie que SF), e nenhum no bairro hippie (Haight).
A gente comeu no jardim dos fundos, que tem piso de terra batida e umas mesinhas de madeira bem rústicas no meio das plantas. Fica tocando um reggae bem tranquilo. O cardápio é composto só de vegetais e grãos, quase tudo cru. E orgânico, claaaaro! O nome dos pratos, bebidas e sobremesas são todos algo como: Eu sou graciosa, Eu sou harmoniosa, Eu sou pacifista, Eu sou maravilhosa, etc. Sério. Daí quando o garçom traz seu pedido, ele pergunta: "Você é maravilhosa?". Hahahaha.
Para completar a onda bicho-grilo, o garçom "deixou uma pergunta" na nossa mesa: "Qual será sua próxima aventura?". Juro!
E no final, junto com a conta, veio um cartãozinho que só vendo (foto abaixo). Ah, hippongas... Eu adoro!



Tuesday, October 21, 2008

Momento coruja!




Já tem mais de um ano que eu saí do Banco do Brasil, mas eu ainda tenho uma ligação forte com a empresa (até porque, até agora, ainda não tenho um outro empregador...). Apesar de que quando decidimos vir para San Francisco, eu já estava bem cansada, eu gostava muito do meu trabalho lá, tanto na área de marketing, em Brasília, quanto depois, no CCBB, em São Paulo, e nos meus quase 7 anos lá eu aprendi muito, mas muito mais do que na faculdade.
Então, esses dias quando eu vi o relatório da Interbrand sobre as marcas mais valiosas da América Latina, tive um ataque de corujisse ao ver o BB em terceiro lugar. Tudo bem que nossos principais concorrentes estão respectivamente em primeiro e segundo, mas para quem quer trabalhar com branding, é muito bacana ter feito parte do time de comunicação institucional da terceira marca mais valiosa da América Latina!

Notícias de chorar (de rir)


Muita gente diz que aqui nos Estados Unidos as pessoas são bastante alienadas, e que as "notícias" que a maioria dos americanos seguem são mais ligadas à vida particular de celebridades do que ao que está acontecendo de importante no mundo. Em certo grau, é verdade. Eu nunca vi tanta revista de fofoca e tem programa na televisão só falando da vida alheia. Mas ao mesmo tempo, a gente também tem lá nossas Caras e cia no Brasil (conheço até gente que assina!!!).
Com relação à política e economia internacional, acho que em média no Brasil recebemos mais informações, mas tanto lá quando aqui o fato é que quem se interessa em entender de verdade o que acontece no mundo, tem fontes à disposição mas precisa tomar um tempo para ler. O que acontece é que muita gente tem preguiça de realmente se debruçar sobre um jornal sério, sem muitas "figuras", e o conhecimento se resume às manchetes, essa é a verdade. Aqui ou no Brasil.
Enquanto eu leio meu jornal preferido aqui, eu fico pensando nisso. Esse jornal, o The Onion, não tem uma notícia sequer que seja real. É tudo inventado, em textos hilários, de chorar de rir (sozinha no ônibus, pense!). Ele é de graça, toda quinta-feira. Eu leio toda semana, pois além de dar umas ótimas risadas, aprendo um inglês mais coloquial e irônico (sim, existe ironia aqui, por mais que muita gente nunca tenha visto). O que eu acho mais interessante é que as notícias, apesar de totalmente falsas, abordam assuntos que estão sendo discutidos pelos veículos "sérios" e geralmente fazem (sérias) críticas inteligentes, por meio de humor. É um bom complemento para os jornais sérios.
Confere lá, tem uma versão online: The Onion

Thursday, October 16, 2008

Roupa suja - não - se lava em casa!

Uma coisa que aqui é bem diferente do Brasil é como se lava roupa. No Brasil, a gente lava em casa. Ou a nossa amada faxineira lava pra gente, para ser mais exata. Todo mundo tem máquina de lavar, tanquinho, ou pelo menos tanque, seja qual for a condição social. Lavanderia é coisa para o vestido de festa, ou para gente muito rica e metida à besta.
Aqui é totalmente diferente. Chique é quem tem máquina de lavar e secar em casa. As pessoas "normais" têm que ir à lavanderia, daquelas que têm um monte de máquinas que funcionam na base das moedinhas (as chamadas coin-op). A lavanderia, junto com o parquímetro e o ônibus, são responsáveis pelo quarter (a moeda de 25 centavos) ser necessidade básica no dia-a-dia dos americanos.
Eu ainda tenho sorte, pois no meu prédio tem máquina (apesar de também ser de moeda). Mas quase todos meus amigos aqui têm que carregar a trouxa de roupa suja (muitas vezes ladeira acima) até a lavanderia mais próxima.  E esperar. Sentado na cadeirinha de plástico. Ninguém merece!
Porém, existem algumas laundries bem bacanas, com sofazinho, máquina de café e até internet wireless. Eu tenho uma lavanderia preferida aqui em San Francisco, apesar de nunca ter utilizado seus serviços. Ela é favorita porque tem o nome mais incrível, que mais fala ao coração dos frequentadores de laundromat: The missing sock. É daquelas coisas que você pensa, "pô, queria ter tido essa idéia." Genial! 
Agora, mais genial ainda é o que eu achei numa outra lavanderia: um serviço de "exchange" para os pobres donos de meias solitárias. Se vc achar um par similar ao seu, é só pegar! Não é o máximo?



Friday, October 10, 2008

Lost in Translation


Eu adoro esse filme! Virei fã da Sofia Coppola depois de assistí-lo (somada uma grande influência também do Virgens Suicidas), porém "desvirei" depois do Maria Antonieta.
Mas enfim, isso não vem ao caso. O fato é que, apesar de o deslocamento cultural dos personagens americanos no filme não chegar nem perto do que eu sinto aqui (o deles é muito pior, vamos combinar!), viver aqui e experienciar o que é você "ser de fora" me fez lembrar muito desse filme. Não tem jeito, mesmo que você domine a língua, a cultura é coisa muito complicada e não se aprende tão rápido. Vai sempre haver momentos em que você vai se flagrar "boiando".
Me lembro especialmente de um dia em que eu estava voluntariando para o San Francisco International Film Festival. Nós estávamos numa sala cuidando da postagem do catálogo do festival, eu, única estrangeira, e umas 5 ou 6 americanas. Era um tédio fazer aquilo, pega o envelope - cola a etiqueta - pega o catálogo - põe no envelope - sela o envelope - põe na pilha - pega o envelope - cola a etiqueta...
Daí que as pessoas estavam fazendo isso no modo automático e papeando animadamente. Elas falavam rápido (muito rápido) e eu já estava tendo dificuldade de acompanhar o assunto. Num dado momento, alguém fez uma piada (eu acho) e todo mundo começou a rir muito. Eu, a única pessoa com uma feição séria na sala, fiquei olhando assim, meio boba, e pensando, "o que foi isso?" Acho que eu havia me concentrado colando a etiqueta bem retinho e quando dei por mim, estava todo mundo rindo eu não tinha a menor idéia  sobre o que!  Triste, né?
Naquele dia eu fiquei lembrando daquela cena do Lost in Translation, quando o Bill Murray está fazendo o comercial de uísque e o tradutor parece que não está ajudando muito... Essa cena é hilária! Essas dias eu vi de novo o filme e fiquei pensando, o que será que o diretor estava falando? Como a internet é a mãe de todas as informações, rapidamente eu consegui localizar a tradução dos diálogos em japonês daquela cena, aqui. Se você gosta do filme, vale a pena ler, e depois assistir de novo. Garanto 47.87% a mais de risadas nessa cena! 
Pena que na vida não dá para simplesmente pesquisar na internet ou usar o Google Translation para entender o que você perdeu...

Tuesday, October 7, 2008

Welcome to San Francisco!


Eu ainda não comentei como é bacana morar numa cidade que está sempre cheia de turistas. Claro, tem alguns momentos em que enche o saco, tipo quando você está com pressa no centro e tem uma multidão com câmeras e sacolas olhando para todos os lados e andando com passo de formiga na sua frente. Ufa!
Mas fora isso, é muito legal. Você vê gente de todo tipo, escuta mil línguas diferentes, dá informação e bate papo com gente interessada em saber mais sobre a cidade.
E também parece que está todo mundo feliz. Os turistas estão felicíssimos, afinal de contas, a cidade é linda de morrer e eles estão de férias. Mas aposto que os comerciantes e a população em geral também ficam felizes com a presença dos turistas aqui. Vou confessar que era bacana quando eu pegava o cable car e os turistas faziam "oohhhh!" admirando a vista justamente na esquina onde eu descia, do lado do meu primeiro apartamento aqui. Eu pensava, meio metida: "foi mal, eu moro aqui!"
E eu fico vendo isso e pensando, que pena que o Brasil não explora bem o turismo! Com tantos lugares absolutamente incríveis, um povo alegre e acolhedor, era para nossa terrinha estar tão lotada de visitantes como aqui. Temos muito que aprender... o turista que vai ao Brasil, ao invés de encontrar estrutura e informações para visitantes, é enganado pelo taxista malandro.
Na verdade, acho que o governo e a indústria do turismo têm uma grande responsabilidade nisso. Eu não vejo uma promoção do Brasil que faça jus ao nosso país e que incentive o turismo de uma forma legal. Depois de quase um ano aqui, a imagem que eu vejo muita gente daqui tendo do Brasil, promovida pelo cinema e por uma indústria de prostituição, é a da favela, a de um país que só tem pobreza e muita violência, ("é assim mesmo, como no Cidade de Deus?"), cheio de mulatas dançando peladas, onde os gringos podem tomar caipirinha e dançar salsa ("ou é samba?") na beira da praia. Ah, sim, e depois do Carnaval, dar uma chegadinha na Amazônia, "antes que os brasileiros acabem de destruí-la." Aff...